terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A Grande Obra de Neemias (7ª parte)


UMA GRANDE OBRA COM UM DESFECHO ESPIRITUAL

“E os da linhagem de Israel se apartaram de todos os estrangeiros, puseram-se em pé e confessaram os seus pecados e as iniqüidades de seus pais” (Ne 9.2).

A vitória de Neemias frente aos seus inimigos somente foi conquistada através muita dedicação e luta espiritual. Uma grande batalha é travada no reino do Espírito, quando como filhos de Deus desejamos levar uma vida em Deus vitoriosa! Nenhum cristão alcançará proezas sem lutas!

Além da oposição e da guerra travada contra nós pelo diabo e seus demônios, há outro fator que devemos considerar, ou seja, a guerra existente em nosso homem interior, onde combatem a carne e o espírito, "porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis" (Gl 5.17).

1. Confissão e arrependimento de pecados (Ne 9.1-4)

O texto diz: "Ora, no dia vinte e quatro desse mês, se ajuntaram os filhos de Israel em jejum, vestidos de sacos e com terra sobre as cabeças. E os da linhagem de Israel se apartaram de todos os estrangeiros, puseram-se em pé e confessaram os seus pecados e as iniqüidades de seus pais. E, levantando-se no seu lugar, leram no livro da lei do Senhor seu Deus, uma quarta parte do dia; e outra quarta parte fizeram confissão, e adoraram ao Senhor seu Deus. Então Jesuá, Bani, Cadmiel, Sebanias, Buni, Serebias, Bani e Quenâni se puseram em pé sobre os degraus dos levitas, e clamaram em alta voz ao Senhor seu Deus".

Muitos de nós acumulamos pecados sem confissão no dia-a-dia. Acabamos por ser envolvidos numa ciranda diabólica, em que a nossa vida como crentes fica inoperante diante de Deus, indo por água a baixo todo esforço na manutenção de uma restauração.

Às vezes muitos comparecem diante de Deus como compareciam os fariseus dos dias de Jesus, que praticavam um culto recheado de mentiras e hipocrisia. Por esta razão, o Senhor, usando uma profecia de Isaías (Is 29.13), os advertiu com severidade: "Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim" (Mt 15.8).

Não se muda este curso a não ser através de um verdadeiro reconhecimento de nossos pecados, num quebrantamento, mediante a ação e o poder do Espírito em nós.

Pelo relato de Neemias, podemos notar que o povo agiu movido pelo Espírito de Deus, que os levou a uma verdadeira conversão de seus caminhos ímpios. Alguns destaques no texto são dignos de nota:

a) Humilharam-se. Assim expressa a palavra: “... se ajuntaram os filhos de Israel em jejum, vestidos de sacos e com terra sobre as cabeças..." (v.1). A humilhação verdadeira diante do Senhor faz com que Ele se volte para nós. De acordo com o salmista, Deus se lembra de nós em nossa humilhação: “... que se lembrou de nós em nossa humilhação, porque a sua benignidade dura para sempre" (Sl 136.23).

b) Confessaram seus pecados. Está relatado que: “... puseram-se em pé e confessaram os seus pecados e as iniqüidades de seus pais..." (v.2); “... outra quarta parte fizeram confissão..." (v.3). Reconhecer nossos pecados contra Deus e confessá-los é uma atitude sábia para mudar nossos caminhos. Não podemos fazer vista grossa, ignorando nossos pecados, pois "o que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia" (Pv 28.13).

c) Clamaram a Deus. É a expressão de necessidade: “... e clamaram em alta voz ao Senhor seu Deus" (v.4). A palavra "clamar", nos leva a pensar num timbre de voz alterado. De acordo com o Dicionário Michaelis, clamar significa: "bradar", "gritar", "proferir em altas vozes", "vociferar", "suplicar", "implorar". Ao sabermos de nossa situação de miséria em razão de nossos pecados, devemos clamar por libertação, invocar por socorro diante do Senhor.

Com certeza, estes ingredientes nos mostram com clareza, uma nova atitude, um novo comportamento, uma verdadeira humilhação diante do Senhor, uma autêntica confissão de pecados presentes e passados e um grande clamor pela misericórdia divina.

Diante desta grande disposição Deus não poderá deixar de agir. Assim o Senhor disse a Salomão: “... e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra" (2Cr 7.14).

A Palavra de Deus sempre nos convoca a mudarmos. Vejamos:
  • Jl 2.13: "E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal".

  • At 3.19: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor".

  • Ap 2.5: "Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres".
Nada mais toca o coração de Deus do que uma alma humilhada, arrependida de seus pecados, disposta a mudar de vida. Davi provou o perdão e a misericórdia de Deus e pode exclamar com alegria: "O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus" (Sl 51.17). Ele também expressa: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito" (Sl 34.18).

2. Uma verdadeira adoração a Deus (Ne 9.5-31)

A Palavra é clara: "E os levitas Jesuá, Cadmiel, Bani, Hasabnéias, Serebias, Hodias, Sebanias e Petaías disseram: Levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade. Bendito seja o teu glorioso nome, que está exaltado sobre toda benção e louvor" (v. 5).

Certamente, esta é uma área que temos grandes dificuldades em nosso relacionamento com o Deus Criador. Talvez em razão do corre-corre de nosso dia-a-dia, do acúmulo de tarefas que nossa sociedade exige, do tempo que passa repentinamente, não nos detemos para um tempo suficiente de adoração em nossos cultos públicos ou pessoais. Mesmo quando estamos cultuando, parece que nossa mente compromissada, tão envolvida pelas coisas deste mundo, não se desativa, não se desliga, e perdemos o melhor da adoração e comunhão com o Senhor.

A verdadeira adoração, como já vimos anteriormente, só pode ser alcançada "em espírito e em verdade" (Jo 4.23-24), e ela exige tempo, momentos de comunhão sem pressa. Como isto é quase impossível para nós! Porém, precisamos parar, arrumar tempo, para começar a aprender o que é adorar a Deus verdadeiramente.

No texto em apreço, podemos perceber como o povo "parou" e um sentimento de adoração real desceu sobre eles abundantemente. A mensagem fez com que o povo:

a) Bendisseram a Deus (v.5): "E os levitas Jesuá, Cadmiel, Bani, Hasabnéias, Serebias, Hodias, Sebanias e Petaías disseram: Levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade. Bendito seja o teu glorioso nome, que está exaltado sobre toda benção e louvor". Bendizer significa "dizer", "louvar", "dignificar". Precisamos aprender a expressar em palavras as qualificações do Deus Eterno. Em nossos momentos de adoração, devemos abrir nossos lábios para dizer que o Senhor é poderoso, criador, benigno, bondoso, santo, e tantos outros predicativos que elevam o Seu nome.

b) Reconheceram que Deus é poderoso em obras:
  • Na criação (v.6): "Tu, só tu, és Senhor; tu fizeste o céu e o céu dos céus, juntamente com todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela existe, os mares e tudo quanto neles já, e tu os conservas a todos, e o exército do céu te adora". Enquanto o cientista ateu procura explicar a criação através de falsas teorias, reconhecemos que tudo foi criado por Deus, “... porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele" (Cl 1.16).

  • Em favor de seu povo (vv.7-31): A história foi relembrada desde a chamada de Abraão até a introdução em Canaã. Veja o versículo 31: "Contudo pela tua grande misericórdia não os destruíste de todo, nem os abandonaste, porque és um Deus clemente e misericordioso". Deus não apenas dirige a história, mas se preocupa com a história de seu povo! Embora em muitas situações venhamos desagradar a Deus, Ele não nos abandona à nossa própria sorte, pelo contrário cuida de cada um de nós! Como nos diz o escritor da Carta aos Hebreus: “... não te deixarei, nem te desampararei" (Hb 13.5).
Adoração implica em:

  • Bendizer pela consagração de bens pessoais (1Cr 29.10, 11): "Pelo que Davi bendisse ao Senhor na presença de toda a congregação, dizendo: Bendito és tu, ó Senhor, Deus de nosso pai Israel, de eternidade em eternidade. Tua é, ó Senhor, a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade, porque teu é tudo quanto há no céu e na terra; teu é, ó Senhor, o reino, e tu te exaltaste como chefe sobre todos". O apelo de Davi solicitando ofertas para a construção do templo foi respondido positivamente pelo povo, o que foi motivo dele bendizer ao Senhor com palavras dignificantes.

  • Bendizer continuamente e perpetuamente (Sl 145.1): "Eu te exaltarei, ó Deus, rei meu; e bendirei o teu nome pelos séculos dos séculos". A expressão "pelos séculos dos séculos", tem a conotação de uma prática contínua, ininterrupta, para sempre.

  • Bendizer reconhecendo os atributos divinos (Dn 2.20): "Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque são dele a sabedoria e a força". Daniel poderia ter sido morto juntamente com todos os sábios da Babilônia, caso o sonho do rei não fosse revelado, juntamente com sua interpretação. Nesta situação de risco de vida, diante da revelação de Deus, Daniel reconhece que verdadeira sabedoria e o poder são provenientes do Todo-Poderoso.
Quando de coração assim agimos, Deus se agrada de nós, derramando benesses a nosso favor. Grandes batalhas espirituais serão ganhas através do louvor e adoração a Deus! Utilizemos este recurso amplamente!

3. Renovação da aliança com o Senhor (Ne 9.32-37; 10.1-39).

"Contudo, por causa de tudo isso firmamos um pacto e o escrevemos; e selam-no os nossos príncipes, os nossos levitas e os nossos sacerdotes" (Ne 9.37).

Como podemos ver no capítulo 9, os levitas, relembram em detalhes a história do povo de Israel, mostrando como Deus em todo o tempo esteve presente abençoando, cuidando, amparando e os conduzindo até aquele momento. No entanto, mesmo sendo abençoado grandemente pelo Senhor, o povo passou por diversas rebeliões, e nos dias de Neemias, a aliança com Deus estava totalmente esquecida, descaracterizada.

Como se observa, havia necessidade de uma renovação, de um novo propósito, onde o povo se propusesse à obediência aos mandamentos e ordenanças divinas e Deus continuasse a abençoá-los.

É muito fácil para nós nos esquecermos de bênçãos passadas, procurando ignorar momentos em que a ação de Deus em nosso favor foi abundante! Ou, pelo menos, fazemos de conta que nada de extraordinário nos aconteceu e vivemos uma vida espiritual à deriva, açoitados de um lado para outro por ventos mundanos, egoístas, materialistas.

Não podemos esquecer que ao entregarmos nossa vida a Jesus, firmamos com Ele uma aliança que teve como ingrediente principal o sangue do Cordeiro imaculado. No dizer de Pedro “... não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver... mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo" (1Pe 1.18-19). Este foi o custo do pacto de Deus conosco! Se a lembrança desta aliança está desgastada e vivemos aleatoriamente nossa vida cristã, se faz necessária a renovação.

Se nossa aliança com Deus está desgastada, devemos ser conscientes de que a culpa é nossa, nunca de Deus. Deus jamais falha em cumprir sua parte! Nós somos infiéis. Deus, porém, é fiel. Como nos diz a Palavra de Deus: "se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo" (2Tm 2.13). A fidelidade de Deus para com seu povo é motivo mais do que suficiente para refletirmos, voltarmos atrás, abraçarmos com firmeza a aliança do Calvário!

4. Consagração (Ne 12.27-43; 13.1-30).

Assim está escrito: "Ora, na dedicação dos muros de Jerusalém buscaram os levitas de todos os lugares, para os trazerem a Jerusalém, a fim de celebrarem a dedicação com alegria e com ações de graças, e com canto, címbalos, alaúdes e harpas. Ajuntaram-se os filhos dos cantores, tanto da campina dos arredores de Jerusalém, como das aldeias do netofatitas; como também de Bete-Gilgal, e dos campos de Geba e Azmavete; pois os cantores tinham edificado para si aldeias ao redor de Jerusalém. E os sacerdotes e os levitas se purificaram, e purificaram o povo, as portas e o muro" (vv 27-30).

A palavra "consagrar", significa "santificar", "dedicar-se", "ser separado", "ser colocado à parte", "sagrado". Os muros estavam prontos, precisavam agora ser dedicados, consagrados a Deus. Uma grande cerimônia foi realizada, onde os levitas, os filhos dos cantores, instrumentistas, foram convocados para a grande festa de consagração. Antecedendo a cerimônia de consagração, uma grande purificação teve início, onde “... os sacerdotes e os levitas se purificaram, e purificaram o povo, as portas e o muro" (v.30).

Ninguém poderá ser santificado se estiver manchado, sujo pelo pecado! Certamente, não poderá haver qualquer consagração, sem que primeiro nossos pecados sejam tratados.

De acordo com os rituais do Velho Testamento, as purificações normalmente eram realizadas através da água. Sabemos que a água simboliza a Palavra de Deus que nos purifica, nos limpa, tornando-nos aptos para entrar na presença de Deus. Quando Jesus lavou os pés de seus discípulos, numa lição de humildade, percebendo Pedro o valor daquela cerimônia, pediu ao Senhor que não somente lhe lavasse os pés, mas suas mãos e sua cabeça (Jo 13.1-9).

Consagração dos muros e as próprias vidas ao Senhor:

a) Na dedicação dos muros (Ne 12.27-43).

Uma grande convocação foi realizada envolvendo os levitas de todos os lugares, cantores das campinas e arredores de Jerusalém, das aldeias, etc. Ordenou-se a purificação dos sacerdotes, levitas e o povo em geral, juntamente com as portas e os muros. Foram também convocados os príncipes de Judá. Dois grandes coros foram formados e saíram em procissão percorrendo a cidade até à Casa de Deus. Finalmente, ofereceram grandes sacrifícios em meio a muita festa, júbilo e alegria.

b) Ao estabelecerem sacerdotes e levitas (Ne 12.44-47; 13.10-14).

O trabalho dos levitas e sacerdotes foi novamente organizado, com homens ocupando postos em todos os serviços no Templo. Foram restabelecidos os dízimos e as ofertas para sustento do Templo, da classe levítica e sacerdotal. Anteriormente os levitas e sacerdotes haviam deixado o ministério do Tempo, em razão da falta de recursos, pela negligência do povo às contribuições.

c) Extirpando o mundanismo (Ne 13.1-9, 23-29).

Uma das grandes dificuldades enfrentadas na restauração do povo foi a questão do casamento misto. Esta prática remontava aos dias de Balão, profeta mercenário, contratado por Balaque, rei de Moabe – nação inimiga de Israel, para corromper o povo de Deus (Números 22-25). Esta mistura, trouxe ao povo de Deus costumes errados, práticas pagãs, corrupção da linguagem, pecado, etc. Às duras penas, o povo teve que romper com o "elemento misto". Até mesmo locais construídos e freqüentados por estes "elementos mistos", tiveram que ser purificados e adequados novamente para o serviço de Deus.

d) Reconhecendo a graça de Deus (Ne 13.30-31).

Após as reformas e o ritual de consagração, Neemias concluiu seu livro de maneira maravilhosa com a seguinte frase: "Lembra-te de mim, Deus meu, para o meu bem" (Ne 13.31). A palavra "lembrar" aqui nos sugere a idéia de concessão de bênçãos, da manifestação do favor de Deus.

Uma verdadeira consagração jamais acontecerá se não estivermos dispostos a perder privilégios, deixar posições estáveis, renunciar coisas adquiridas e abandonar o mundanismo.

Precisamos de uma grande limpeza, extirpando de nossas vidas o vil, o desnecessário, os embaraços e o pecado. Muitas vezes não estamos literalmente envolvidos com o pecado, mas mantemos uma certa proximidade, uma afinidade com ele, ignorando que a qualquer momento podemos ser envolvidos num caminho sem retorno, prejudicando a carreira que nos foi proposta pelo Senhor.

Vimos que a confissão de pecados, a adoração verdadeira, a renovação da aliança e a consagração de nossas vidas, são requisitos importantes para mantermos uma restauração. Todos estes requisitos precisam ser trabalhados e desenvolvidos por nós com seriedade, pois só assim seremos vitoriosos!

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