A ESCOLHA DAS TÉCNICAS
O método de aconselhamento é o caminho a ser percorrido desde o momento em que a pessoa abre o coração revelando seus problemas, até a indicação de sugestões pelo conselheiro, que devem ser seguidas, rumo à solução.
Não existe um método único para o aconselhamento. É fundamental que o conselheiro aprenda os diferentes métodos e escolha a técnica mais apropriada para o caso que ele está enfrentando. No entanto, não descartamos a possibilidade de usar métodos diferentes em um mesmo momento, de acordo com as necessidades do aconselhado.
Consideremos alguns métodos de aconselhamento, os quais, nós como evangélicos podemos utilizar:
1. Aconselhamento de apoio
Este método consiste em deixar o aconselhado à vontade para desabafar, enquanto o conselheiro paciente e atentamente, ouve. Em seguida, utiliza os recursos da Bíblia para ajudar o aconselhado a achar respostas para seus dilemas.
O conselheiro oferecerá um ouvido atento e compreensivo à pessoa que necessita desabafar. Ele ajudará o aconselhado a encarar a situação com realismo, a expressar abertamente seus sentimentos de pesar, temor, frustração, ressentimento e culpa; a aceitar que também tem muita responsabilidade para solucionar o problema; a enfrentar situações que não podem ser mudadas, como a perda de um ser querido; e a dar passos construtivos na solução do problema.
Os recursos espirituais como as Escrituras, as promessas de Deus e a oração, são muito úteis no período de crise. Porém, o aconselhado pode reagir negativamente se o pastor tenta reencorajá-lo com um otimismo superficial que não esteja de acordo com a realidade: “Não se preocupe, vai dar tudo certo. O caso não é tão grave como você pensa”.
A atitude do conselheiro vale mais do que suas palavras. Se o conselheiro estiver tranqüilo, atento e demonstrar plena confiança em Deus, sua própria presença transmitirá apoio à pessoa em seu momento de crise.
Há outro aspecto que deve ser considerado no aconselhamento. As pessoas tímidas ou inseguras em decidir-se a fazer o que já sabem que é correto, necessitam de incentivo. Outras duvidam que tenham agido bem e necessitam ser encorajadas para continuar avançando em busca de uma solução.
2. Técnica Diretiva
O papel do conselheiro é semelhante ao do médico. A pessoa descreve o seu problema e o conselheiro formula perguntas, reúne informações, faz o diagnóstico e sugere as possibilidades de tratamento. A única responsabilidade do assistido é cooperar com o conselheiro e colocar em prática o conselho.
Os psicólogos profissionais que empregam essa técnica, geralmente começam a entrevista colhendo dados. Às vezes o aconselhado recebe questionários nos quais há perguntas acerca de sua personalidade, situação e interesse em resolver o problema. Em seguida recolhe os antecedentes da questão. Desta forma eles realizam uma análise básica do caso.
O segundo passo é organizar, avaliar e interpretar os dados para se traçar um histórico da vida do aconselhado. Em seguida tenta-se diagnosticar o problema, chegando-se a uma conclusão acerca de suas características e causas. Finalmente o conselheiro apresenta sugestões de solução, e faz o prognóstico de como esses esforços rumo à solução podem ser direcionados no futuro. Ele ajudará a pessoa a tomar sua própria decisão.
3. Técnica Não Diretiva
É uma a técnica muito usada pelos psicólogos. A aplicação da psicologia no aconselhamento cristão, porém, não deve negar a realidade do pecado, nem a importância da responsabilidade pessoal, nem o papel das Escrituras no processo de aconselhamento cristão. Pelo contrário, o conselheiro aprende do analista a importância de escutar, de compreender a pessoa que tem problemas, de sentir sua angústia, de aceita-la tal como ela é, de apoiá-la, de encorajá-la, de diminuir seu isolamento e solidão, e de aliar-se a ela na luta contra o seu problema.
Na técnica não diretiva, o assistido é a figura central; ele fala livremente de seus problemas e sentimentos. O conselheiro o escuta, reflete e responde. Ele não é juiz, nem um conselheiro possuidor de todas as respostas. O aconselhamento cristão é “um relacionamento interpessoal no qual duas pessoas se concentram no esforço de esclarecer os sentimentos e problemas de uma, e se colocam em comum acordo no que isso representa e no que estão tentando fazer para soluciona-los”.
O conselheiro ajuda o assistido a compreender-se a si mesmo, a encontrar a causa do problema, a ver as alternativas, a tomar sua própria decisão, e a realizá-la. Não tenta manipular a entrevista fazendo perguntas diretivas, oferecendo interpretações e respostas de clichê, e impondo suas soluções. Muito pelo contrário, ele ajuda o assistido a ajudar-se a si mesmo.
O conselheiro não responde sempre verbalmente. Um gesto, um sorriso ou um período de silêncio pode estimular o aconselhando a falar mais e a comunicar sua reação.
4. Aconselhamento por Confrontação
Esta é a técnica bíblica por excelência. Ela segue os moldes bíblicos, fazendo com que os pacientes enfrentem suas realidades morais, diante de Deus, dos homens e de si mesmos.
Há casos em que o conselheiro deve colocar os pecados do aconselhado, diante deste. O conselheiro deve atentar para não se comportar como juiz. Tanto o Antigo como o Novo Testamento, colocam a responsabilidade da conduta de um indivíduo sobre o próprio individuo. Jesus confrontou a mulher samaritana com a imoralidade dela (Jo 4.17,18), mostrou aos fariseus a hipocrisia farisaica (Mt 23), e apontou aos discípulos a falta de fé deles (Mt 8.26). A Bíblia diz: “O que encobre as suas transgressões, nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Pv 28.13).
Muitos psicólogos confirmam o que as Escrituras dizem, afirmando que a pessoa que tenta encobrir seu mal sofrerá cedo ou tarde de sentimento de culpa, de frustração e de ansiedade neurótica.
É interessante também notar, que Jesus nem sempre tocou no assunto do pecado diante das pessoas das quais ele estava tratando. Não disse nada contra os pecados de Zaqueu. Conseguiu leva-lo a confessar os seus pecados tratando-o com consideração.
Da mesma forma que Zaqueu, muitas pessoas necessitam hoje serem confrontadas diretamente com suas fraquezas. Porém, tal técnica pode ser algumas vezes contraproducente, e fará com que alguns aconselhados se coloquem na defensiva, sentindo-se rejeitados. Provavelmente resistirão o conselheiro e não receberão suas palavras. Tais pessoas devem encarar o pecado por sua própria conta. Muitas vezes o caminho indireto produz mais e feitos e produz resultados mais duradouros. O conselheiro necessita empregar sua sabedoria e sentir a direção do Espírito Santo para escolher a técnica adequada.
Detalhamento da Técnica:
- O conselheiro recolherá informações acerca do problema, averiguando os antecedentes dele. Formulará perguntas para ter um conceito claro da situação e para ajudar ao aconselhado a reconhecer sua responsabilidade no problema.
- Confrontar o aconselhado com as provas de seu mau comportamento. Ou seja, leva-lo a reconhecer que há pecado, e que ele tem que enfrentar a realidade. O conselheiro não pode esquecer que o objetivo do aconselhamento é restaurar a pessoa à comunhão com Deus e com os seus semelhantes (Gl 6.1).
- Continuar aceitando o aconselhado, mesmo no caso em que este não queira reconhecer suas faltas. O conselheiro sabe que Deus rejeita o pecado, mas ama o pecador. Em alguns casos o aconselhado pode rejeitar durante o dialogo, as evidências de sua culpa, mas, em seguida ele geralmente as reconhece.
- Levar a pessoa a confessar seu pecado a Deus e confiar no seu amor perdoador (1 Jo 1.9). Em caso de aconselhamento de uma pessoa descrente, pode ser que o conselheiro seja a única pessoa a quem o aconselhado confesse sua falta, pois ele talvez nem saiba como recorrer a Deus.
- Ajudar o aconselhado a aceitar as contas contraídas por sua má conduta com as pessoas prejudicadas, ou seja, fazer com que ele restitua o que deve, caso isso seja possível. Em seguida o conselheiro deve ajuda-lo a levar uma vida digna de seu arrependimento.
5. Aconselhamento em Grupo
Alguns conselheiros têm se reunido com um grupo pequeno com o propósito de aconselhar várias pessoas ao mesmo tempo. Tem se conseguido sucesso extraordinário em aconselhar casais através dessa técnica.
O grupo terapêutico deverá reunir, em regra geral, de seis a nove pessoas, por ser este um bom número. Todos os integrantes considerarão seus problemas e objetivos em comum, procurando, por exemplo. Soluções para assuntos relacionados com a educação dos seus filhos ou com a melhora de sua vida matrimonial. O espírito de irmandade fará com que cada pessoa expresse o que sente.
No momento da ação do conselheiro ele não estará só, pois no grupo terapêutico, há tantos conselheiros como membros. Os membros escutam, aceitam, apóiam, confrontam e aconselham. Em regra os membros dirigem seus comentários uns aos outros e não ao líder. As pessoas passarão a ver os seus problemas a partir de uma nova perspectiva: a de seus companheiros de grupo.
O conselheiro servirá como líder do grupo, participando, observando e estimulando a conversação. Evitará que os participantes se desviem do tema. Escutará e comentará conceitos “a fim de esclarecer idéias que surjam de forma errada, às vezes, até de forma nebulosa”. Ele não monopolizará a conversação.
Regras a serem observadas para se ter bom proveito:
- Os participantes devem prometer que manterão em segredo tudo o que for conversado nas reuniões. De outro modo ninguém terá plena confiança de expor os problemas de sua vida.
- Cada um deve tirar a máscara de si mesmo e não aparentar ser o que não é ou que não sente. Porém, não deve abusar de sua liberdade denegrindo os outros ou relatando incidentes demasiadamente íntimos.
- O amor cristão deve prevalecer.
- Nenhuma pessoa tem o direito de monopolizar a conversação.
- Acima de tudo, os integrantes devem ajudar-se mutuamente a carga e a orar uns pelos outros.
- Os especialistas dessa técnica sugerem que o grupo se reúna a cada semana em um lugar diferente.
- As pessoas devem sentar-se em circulo para facilitar a intercomunicação entre elas.
- A seção durará uma hora e meia aproximadamente, e convém ter um momento social depois.
- O ideal é que o grupo seja composto de no máximo doze membros.
Concluímos que o conselheiro deve escolher a técnica mais apropriada para o caso e utilizar o método que ele já domina.
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