Às
vezes, sem mesmo pensar, dizemos que o tempo é senhor da razão. Empiricamente,
o tempo é um instrumento revelador da face real das coisas. A perenidade ou
efemeridade, útil ou inútil, real ou utópico, tudo isso por ser determinado
simplesmente esperando um pouco de tempo.
Mas
ainda que o tempo seja fator determinante para obter conclusões, Deus é Senhor
do tempo! A Bíblia diz que Ele é "Pai da eternidade" (Isaías 9.6).
Deus tem a patente do tempo. O tempo lhe pertence!
Na
língua grega, há três palavras principais para explicar o tempo:
-
kronus: é o tempo corrido, marcado pelos relógios, calendários e estações. Pode
ser exemplificado ainda pelos segundos, minutos e horas de um dia; pelos dias e
semanas de um mês; pelos meses de um ano, décadas, séculos ou milênios. De
qualquer forma, kronus é o tempo limitado, mas que não pára de ser contado,
independente do que aconteça.
-
aeon: é o tempo cíclico, de eras, de metamorfoses, de ascensão e queda de
civilizações. Relaciona-se a mudanças culturais, reconfiguração social, nova
forma de pensar sobre os temas mais relevantes de uma sociedade, seja a
política, a religião, a moralidade e a ética.
-
kairós: é o tempo divino. Na Grécia, os antigos chamavam de kairós aquele tempo
em que os deuses desciam o Olimpo para estar entre os mortais. Era como uma
visita celestial para ajustar as coisas e reivindicar pureza, honestidade,
cuidado e devoção.
Tendo
isso em mente, fica mais fácil compreender a importância do tempo. Sem dar
valor a ele, frutos não amadurecem, sabores não aprimoram, cheiros não
impregnam e pessoas não aprendem. Como uma borboleta que muda de lagarta
pavorosa a inseto voador delicado, o seu ciclo de vida de quatro fases (ovo,
larva, pupa e imago) precisa de tempo.
"Há tempo para todas as coisas" (Eclesiastes
3.1).
- "Há tempo": não existe nada atemporal,
humanamente falando.
- "Há tempo para": cada tempo tem um
porquê, uma razão, uma causa.
- "Há tempo para todas": não apenas para
algumas, para as melhores, não!
- "Há tempo para todas as coisas": da
tempestade a bonança, do caos a estabilidade, da tensão a calmaria, da dor ao
alívio, do inimigo ao amigo, sempre há um tempo!
Quando
a mente aclara isso, paciência passa a ser vital para cada instante. Aliás,
"paciência" é a junção de dois termos: "makro" e "thimós".
A primeira significa grande, longe; a segunda, raiva, irritação, explosão.
Paciência descreve uma pessoa que não explode, que tem pavio longo, que custa a
irar-se ou desesperar-se.
Essa
contemplação paciente do tempo gera segurança, outra palavra significativa na
compreensão do tempo. O Pai da eternidade garante que tudo aconteça em seu
determinado tempo. Como as notas de uma partitura determinam os movimentos de
um maestro, Deus age de acordo com o que sabe da eternidade. Eu explico (ou
pelo menos tento): O Brasil foi descoberto em 22 de Abril de 1500, por Pedro
Álvares Cabral e Martinho Lutero afixou as suas 95 teses na catedral do castelo
de Wittenberg em 31 de outubro de 1517. Dirá o leitor: o que isso explica? Bem,
antes que esses eventos fossem realidades a ser contadas em nossos livros de
história, Deus já sabia que isso iria acontecer e mesmo sabendo de antemão,
permitiu que por séculos ninguém soubesse da existência de outro continente ou
que a Igreja mergulhasse nas trevas da ignorância bíblica. Ele permitiu que
todos os habitantes do planeta cressem na teoria geocêntrica, que, como explica
o termo, a Terra é o centro do universo, e que só foi desafiada a partir de 9
de março de 1497, data da primeira observação astronômica de Nicolau Copérnico,
pai do Heliocentrismo (o sol como centro). Ele permite coisas para que outras
coisas fiquem claras.
Se
pudesse olhar sua vida de onde está agora para trás, sendo a reconstituição
fiel de tudo o que viveu, com certeza, em vários momentos, eu lhe ouviria
dizer: "Como não vi isso? Como não descobri aquilo? Como não entendi
aquiloutro?" Quando cremos que o tempo é apenas uma imanência da
eternidade de Deus, há segurança em nós! Mesmo não vendo, cremos. Mesmo sem
esperança, esperamos. Mesmo na contramão, relutamos. Por nós mesmos? De jeito
nenhum! É que Deus capacita-nos a crer que Ele já sabe o que vai acontecer e
que o que está acontecendo segue as notas de sua partitura. E ponto final!
O que
nos incomoda, é nada pra Deus. O que nos tira o sono, é descanso pra Ele. O que
nos desespera, faz-lhe rir. O que nos faz chorar, cumpre o seu propósito. Ele
não sabe o que significa obstáculo, dificuldade ou impedimento. Ele não vê
diferença entre deserto e oásis. Ele desconhece ventre estéril. Ele não se
limita pelos cabelos brancos. Ele não teme exército numeroso. Ele não reconhece
nenhum inimigo. Ele nunca olha pra cima, porque acima dEle, nada há!
Depois
que conhecemos a grandeza desse Deus que rege todas as coisas, por que temer o
que vem pela frente? Por isso:
1. Fique
tranquilo. Não é ataraxia; é paz de espírito. É quietude na alma. É serenidade.
É confiança no Pai da eternidade. Não tenha pressa. Deus tem escadas, não
elevador. Deus usa fogo no altar, não um microondas. Gosto quando Paulo escreve
aos Efésios, dizendo: "porque somos feitura sua" (2.10).
"Feitura" é uma palavra que denota trabalho manual. O que seremos,
Deus está fazendo!
2.
Aprecie cada tempo. Há marcas em cada segundo que vivemos e um constrói o
próximo, sempre. Quando li o livro "A graça de Deus no 11 de
setembro", de Jim Cymbala, fiquei impressionado com o relato de pessoas
que escaparam da tragédia porque o cadarço dos sapatos desamarrou, outros
porque o atendente da cafeteria demorou, outros porque perderam o metrô, outros
porque adoeceram. É possível escapar de algo pior experimentando o incômodo
mínimo hoje! Sem Penina, não nasce Samuel. Sem o gemido de Israel, não nasce
Moisés. Sem os ismaelitas, José não é promovido a governador. O tempo da
vergonha aflora tempo de honra.
3.
Prepare-se para o kairós. Quem vive o kairós, superou o kronus. Se você
conseguir suportar a pressão do kronus, você chega no kairós, mas se ignorar o
kronus, é possível que jamais viva o kairós. Kronus é a estrada para o kairós.
Demorado, longo, fatigante e desanimador, mas extremamente necessário. Como uma
flor que precisa de sol, chuva, orvalho, vento, sombra, dia e noite, para ser
bela no seu tempo, assim também é todo aquele que almeja viver o kairós: altas
e baixas temperaturas, ventos sombrios, noites escuras e dias maus; a graça do
kairós nasce da desgraça do kronus.
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