sábado, 16 de junho de 2007

Dia de Receber Benção?

Com tantos modismos e interpolações teológicas que têm surgido, achei-me induzido a escrever algo sobre isso. Depois de muitas barbaridades, a última em nossas igrejas são os cultos com nomes: “segunda do milagre”, “terça profética”, “quarta da bênção”, “quinta da vitória”, “sexta da libertação”, e por aí vai. É difícil tratar de um assunto tão complicado como este sem perder o foco que é Cristo ou não contrariar a si mesmo. Por isso prefiro questionar ao invés de simplesmente expor a minha opinião. Não quero convencer ninguém com meus comentários; quero refletir. Não sou contra as realizações de campanhas de oração, jejuns ou dias de proibição.

Absolutamente não. Grito alto contra os abusos doutrinários e da fé que existem nesses movimentos. Não é errado a Igreja ter dias específicos para oração, jejum ou abstenção de desejos puramente carnais; isso é bíblico. É errado acreditar e ensinar que Deus só atende nessas condições.

Creio que em meio a tudo isso há crentes verdadeiros que, de fato, dedicam-se à piedade cristã singularmente e têm comunhão com Deus de verdade, mas que também, entre estes, em maior número, há pessoas egoístas, falsas, supersticiosas, com crendices, persuasivas e que, sutilmente, induzem muitos fiéis a extravagâncias espirituais que, de acordo com a Bíblia, é fogo estranho.

Todo motivo que nos impulsione a irmos à Igreja alheio a Cristo, deve ser reprovado. Não podemos fazer barganha com Deus. Não podemos ser crentes em troca das bênçãos que Deus tem a dar. Não pode haver adoração corporal sem adoração verbal. Não há santificação sem arrependimento. Não precisamos de nova unção, nova liturgia, novas fórmulas e de tantas outras coisas novas que têm surgido. Precisamos de devoção, contrição, arrependimento, confissão de pecados conhecidos, e aí sim, quando isso for real em nós, o avivamento bíblico ocorrerá e experimentaremos o que Deus tem reservado para os nossos dias. Tudo depende de quanto há de verdade em nós.

QUESTÃO 1: O NÚMERO 7 (SETE)

É um número perfeito? Existe número perfeito? Quando um número é perfeito? Se existe número perfeito, qual número é imperfeito? Por que sete seria o número de Deus? Deus tem número? Deus precisa de número? Se Deus tem número, por que há tanta diversidade deles nas páginas sagradas como: vinte e quatro anciãos, doze apóstolos, setenta discípulos divididos de dois em dois, dois querubins, etc? Não há perfeição nisso? Não é Deus quem torna perfeito e santo aquilo que faz? Se alguma obra não tiver o número sete envolvido, pode ser considerada imperfeita? É ordem de Deus fazer sete vezes cada requisito? Se a mesma oração pode ser feita sete vezes, porque Deus não ouviria as rezas? Deus só atende depois da sétima vez? Quem determina a hora que devemos cessar de orar com propósitos? Se Deus não atendeu, não seria prova suficiente de que estamos orando contra a Sua vontade? Não é promessa dEle atender toda oração feita em nome de Jesus de acordo com a Sua vontade? Tem algum sentido profético espirrar sete vezes, cantar sete hinos, orar sete dias ou congregar sete cultos? Se o número sete tem sentido profético ou é perfeito, quem nasceu dia sete de julho (mês sete) de setenta e sete, às sete horas e sete minutos é mais abençoado que qualquer outro? E esse material com sete questões? (me desculpe pelo sarcasmo).

QUESTÃO 2: PESSOAS AUTO-ACLAMADAS COM DONS ESPIRITUAIS

O que são dons espirituais? Quem administra-os? Quem entrega-os? Alguém pode dizer que “tem” dons? Naquele que é manifesto os dons uma vez, torna-se dono dele? O dom pode ser nosso ou sempre é de Deus? Não é “o Espírito que distribui os dons particularmente a cada um como quer para o que for útil” (1Co 12.11)? Não é propósito dos dons servir para edificação da Igreja? É certo alguém dizer que é “usado” por Deus com dons espirituais, sendo que a expressão nunca aparece nas Escrituras? Somos “fantoches” nas mãos de Deus? Se alguém diz ter algum dom, por que ainda precisa usar o nome de Deus? Por que não usa o seu próprio nome? Para que os dons espirituais sejam manifestos, é necessário fazer invocação? Se é necessário, que diferença há dos centros espíritas? Pra que fazer jejuns prolongados se Jesus recomendou isso uma única vez? Se não estivermos em jejum, não podemos orar por algum enfermo? Deus só se revela às pessoas que jejuam? E a Palavra de Deus não é mais uma revelação? Que vale mais: auto-comiseração ou auto-exaltação? Deus precisa de pessoas mais fortes do que Ele? Soberba ainda é pecado ou agora é virtude?

QUESTÃO 3: OUTRO EVANGELHO

Onde estão o amor e o zelo pela Palavra de Deus? Será que estamos com medo de pregar somente a Palavra sem recheios triunfalistas? Ela não tem efeito por si mesma? Por que não pregamos mais os temas relacionados ao perdão, graça, misericórdia, pecado, sofrimento, arrependimento, confissão, inferno, morte, lei da semeadura, etc? Por que abandonamos as mensagens de João Batista? Que fizemos com o Sermão da Montanha proferido pelo próprio Senhor Jesus? Por que preferimos temas relacionados a vitórias e conquistas, se foi dito por Jesus que teríamos aflições? Não foi Pedro que disse que os sofrimentos de Cristo refletem também a sua glória? Cadê a piedade cristã? Se sofrimento é maldição hereditária, glorificação também é herança? Por que escolher um dia para Deus falar conosco, se temos a promessa de tê-lo sempre?

QUESTÃO 4: PERDA DA VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE

Como definimos espiritualidade? Quem é o meu alvo espiritual? Espiritualidade não é uma aspiração natural da alma do regenerado? Não é a compreensão de um Absoluto chamado Jesus? Não é uma postura assumida na vida do cristão? Não é a compreensão correta dos atributos de Deus? Espiritualidade pode ser medida? É algo visível? É algum requisito para recebermos algo de Deus? Deus ama mais quem é mais espiritual? Será que isso não torna o amor de Deus condicional? Será que podemos agradar ao Senhor? Não é Cristo que nos torna agradáveis a Deus? Se podemos agradar a Deus por nós mesmos, ainda precisamos de Jesus? A espiritualidade é verdadeira quando usada para fins egoístas? E o que dizer daqueles que intitulam-se “grandes servos”? Em que situação um servo é grande? E o fruto do Espírito onde fica? Suas virtudes são dispensáveis? O amor deixou de ser fruto excelente? A benção de Deus está condicionada a critérios? Qual base pra isso?

QUESTÃO 5: DEUS FORA DO TRONO

Por que nossas orações não são mais feitas em nome de Jesus? Por que nossas orações não mais humildes? Por que agora escolhemos “decretar”, “declarar”, “determinar” ao invés de “pedir”, “rogar”, “suplicar”, “clamar”? Será que Deus precisa ser “mandado” pra fazer algo por nós? Jesus não disse que Ele sabe de tudo antes de Lhe contarmos? Temos a imagem de um Deus soberano ou de um súdito? Deus é patrão ou nosso empregado? Deus é Senhor ou senhoreado? Por que pedimos algo a Deus como se fosse nosso “empregado” esperando receber como se fosse de um “rei”? Empregados dão presentes grandes? Por que dizemos tanto “por favor” (quando dizemos) e tão pouco “obrigado”? Será que o coração agradecido perdeu o valor? Se Deus não for adorado, há alterações em Seu caráter, ou em Seu poder, ou em Sua glória, ou em Sua personalidade? Deus fica “mais poderoso” quando o adoramos e “menos” quando não o fazemos?

QUESTÃO 6: CONFUSÃO ENTRE FÉ E CONFISSÃO POSITIVA

Qual a relação entre a palavra proferida e a fé? Fé é firmamento ou uma força ou substância (King James Version)? As palavras têm realmente poder? Por que nem sempre temos tudo o que queremos ou dizemos? Por que preferimos um evangelho que mais se parece com espiritismo? Quando agimos assim, que diferença temos dos seguidores da Seicho-No-Iê? Será que João Batista faria tanto sucesso quanto Lair Ribeiro hoje em dia? Por que preferimos uma fé reduzida a fórmulas? Por que negamos a existência do mal ao invés de vê-lo como instrumento de Deus para nosso aperfeiçoamento? Por que negar a dor se ela é um dispositivo divino? Que dizer de Jó? Seu sofrimento não tinha propósitos sobrenaturais e futuros? Não era Deus por trás de cada ação? Por que ficamos com um evangelho de facilidades e que massageia nosso ego mesmo crendo que recebemos um evangelho de cruz e sofrimento?

QUESTÃO 7: ABUSOS DOUTRINÁRIOS

Por que não pregamos somente aquilo que a Bíblia diz a respeito das doutrinas básicas? Será que não conseguimos sustentar nossas convicções usando somente a Bíblia? Que fizemos dos princípios de interpretação bíblica? O que tem mais ênfase e autoridade em nossas pregações: a Bíblia ou as experiências pessoais? Que fizemos dos auxílios espirituais como “iluminação” e “revelação”? Por que não dependemos mais do Espírito para uma interpretação sadia da Palavra de Deus? Por que aceitamos tão facilmente novas revelações, sendo que a Bíblia diz para ficarmos com aquilo que temos recebido desde o princípio? Por que não aplicamos o ensino bíblico a nossas vidas? Por que não desenvolver uma ética social cristã baseada somente na Bíblia? Será que estamos crescendo em nossa fé? É Cristo o Senhor de nossas vidas, ou estamos vivendo para nós mesmos? Que equilíbrio há entre doutrina e prática em nossa vida? Por que cremos mais nas palavras de um pregador famoso do que na Bíblia que mora em nossa casa? Estamos centralizados na Bíblia ou num líder eclesiástico?

Se alguém me perguntar: “Você se considera espiritual?”, responderei, sem pestanejar: “Tenho espiritualidade, mas ela é deficiente. Precisa melhorar muito”. E se me perguntarem: “Se você não é modelo, por que escrever algo questionando espiritualidade?”. Bem, eu não quero ser modelo. Modelo é alguém que não precisa melhorar, e eu preciso melhorar em muito. Meu questionamento aqui não é do tipo “Façam que vai dar certo”. É mais na linha: “Estou querendo ser melhor e pretendo caminhar nesta direção que aqui aponto”. Todos podem ajudar orando pelas nossas Igrejas.

A vida cristã não consiste em críticas à vida alheia, mas em apoio mútuo. Se crescermos em espiritualidade, o reino de Deus será beneficiado. O Evangelho de Cristo se caracteriza pela simplicidade. Toda complicação deve ser rejeitada. Quando o âmago da fé cristã está em perigo, medidas radicais tornam-se necessárias.

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LIVRE, MAS LIMITADO

Você é livre, é verdade. Inteiramente livre. Profundamente livre. É livre como nunca foi. Mas ainda que sejamos livres para fazer o que quis...