quinta-feira, 9 de julho de 2015

Carta de um Pastor à suaIigreja se passando por alguém que quer sair.

Por John Pavlovitz
Estar do outro lado do Êxodo é horrível, não é? Eu vejo pânico em seu rosto, igreja.
Eu sei do terror interno que cresce em você à medida em que vê as estatísticas, ouve as histórias e examina as pesquisas de saída.
Eu te vejo desesperadamente se atrapalhando para fazer o controle de danos com os que ficaram, e tentando fabricar paixão com uma fé que só encolhe, e eu quero te ajudar.
Você pode achar que sabe a razão de as pessoas estarem te deixando, mas eu não acho que você saiba.
Você acha que é porque a “cultura” está tão perdida, tão perversa, tão além do limite que está fazendo todos irem embora.
Você acredita que a razão principal dessa evasão é que eles fecharam seus ouvidos para a voz de Deus; buscando dinheiro, sexo e coisas materiais.
Talvez você até ache que os gays, os Muçulmanos, os Ateístas e as estrelas pops esculhambaram tanto a moralidade do mundo que as pessoas estão abandonando a fé aos montes.
Mas estas não são as razões pelas quais as pessoas estão te deixando.
Elas não são o problema, Igreja.
Você é o problema.
Deixe-me elaborar em cinco questões…
1 – Seus cultos se tornaram ralos.
O púlpito ornamentado, as luzes, a equipe de louvor, o novo projetor de vídeo, tudo isso se tornou um ruído para aqueles que realmente estão tentando encontrar Deus. Eles até agradam e distraem por uma hora, mas possuem tão pouca relevância na vida diária das pessoas que elas estão zarpando.
Claro, as músicas são lindas e o programa é ótimo, mas ultimamente o Sábado/Domingo de manhã não está fazendo muita diferença na Terça a tarde ou na quinta a noite, quando as pessoas estão lutando com o desastre, com a bagunça e com as dores adquiridas nas trincheiras da vida; nos lugares onde uma bela doxologia não ajuda.
Nós podemos ser entretidos em qualquer outro lugar, inclusive com mais qualidade. Até que você nos dê algo mais do que uma peça teatral de temática cristã, algo que nos proporcione espaço e fôlego e relacionamentos e diálogos, muitos de nós iremos permanecer aqui fora.
2 – Você está usando uma língua estrangeira.
Igreja, você fala e fala e fala, mas está usando uma língua morta. Você se apega a palavras empoeiradas que não possuem ressonância nos ouvidos das pessoas, sem perceber que apenas falar essas palavras mais alto não é a resposta. Todas as expressões e palavras-chave que funcionavam 20 anos atrás não funcionam mais.
Essa linguagem interna espiritualizada pode te dar certo conforto em um mundo que está mudando, mas este é um pensamento egoísta e apenas mantém as pessoas a uma certa distância. Elas precisam te ouvir em uma linguagem que possam entender. Existe uma mensagem que vale a pena ser compartilhada, mas é difícil ouvir no meio te tanta pirotecnia verbal.
As pessoas não precisam ser deslumbradas com algo grande, palavras igrejeiras, painéis escatológicos e sistemas teológicos complicados. Fale com elas de forma clara e abundante sobre amor, alegria, perdão, morte, paz, Deus, e elas ouvirão. Mantenha o discurso interno e em breve as palavras ecoaram em um prédio vazio.
3 – Sua visão não vai além das paredes.
Os bancos confortáveis, o equipamento de última geração, o novo sistema de ventilação e a ala infantil são top de linha… e caros. Na verdade, a maior parte do seu tempo, dinheiro e energia parece ser atrair as pessoas para onde você está ao invés de alcançá-las onde elas já estão.
Ao invés de simplesmente caminhar na vizinhança ao seu redor e se associar às coisas maravilhosas que já estão acontecendo, e as coisas belas que Deus já está fazendo, você parece satisfeita em anunciar a franquia da sua marca particular de Jesus, e esperar que o mundo pecador bata em sua porta.
Você quer alcançar as pessoas que estão perdidas? Saia do prédio.
4 – Você escolhe batalhas pobres.
Nós sabemos que você gosta de lutar, Igreja. Isso é óbvio.
Quando você quer, você vai pra guerra com artilharia pesada. O problema é que suas batalhas são mal direcionadas. Protesto contra fast-food, reality-show, piada ruim sobre o cristianismo na tv. Tudo isso pode gerar um alvoroço no Facebook e no Twitter do lado de dentro, para os já convencidos, mas são apenas fogo de palha para os que estão aqui fora com sangue nas botas.
Todos os dias vemos um mundo sufocado pela pobreza, racismo, violência, intolerância e ódio; e em face dessas questões, você fica estranhamente, assustadoramente calada. Nós gostaríamos que você fosse mais corajosa nessas batalhas, pois assim, teríamos prazer em ir à guerra com você.
Igreja, nós precisamos que você pare de ser guerrilheira contra o trivial e indiferente quanto ao terrível.
5 – Seu amor não parece amor.
Amor parece ser uma grande questão para você, Igreja, mas não sabemos onde ele vai parar quando a coisa fica mais séria. Na verdade, mais e mais, esse slogan de amor parece incrivelmente seletivo e definitivamente estreito; filtrando toda a gentalha cristã, que infelizmente parece incluir demasiados de nós.
Sinceramente? Parece uma dessas propagandas enganosas com letrinha miúdas no canto baixo da TV. Anunciam uma festa do tipo “Venha como estás”, mas fazem questão de deixar claro que uma vez que tenhamos chegado à porta, não podemos realmente entrar como estamos. Nós vemos um Jesus na Bíblia que andava com a gentalha da sociedade, prostitutas e trapaceiros, e os amava ali mesmo, mas essa não parece ser a sua concepção de amor, não é?
Igreja, você consegue nos amar se não preenchermos todos os requisitos doutrinários e não tivermos nossa teologia toda desvendada ainda?
Você consegue nos amar se xingarmos, bebermos, fazermos tatuagens, ou Deus nos livre, ouvirmos rock? Não acho que consigam.
Você consegue nos amar mesmo que não saibamos ao certo como definir amor, casamento, céu, inferno? Não parece.
Do que sabemos sobre Jesus, acreditamos que ele se pareça com o amor. O grande infortúnio, é que você não se parece muito com Ele.
Essa é uma parte da razão pela qual as pessoas estão te deixando, Igreja.
Estas palavras podem te deixar muito, mas muito zangada, e talvez você revide dando um contragolpe na jugular para se defender, ou talvez ataque estas declarações linha por linha, mas nós gostaríamos muito que você não fizesse isso.
Nós gostaríamos que você se sentasse em silêncio com essas palavras por um tempo, porque quer você acredite que elas estão certas ou erradas, é isso que estamos sentindo, e essa é toda a questão.
Nós somos os que estamos saindo. Queremos importar para você. Queremos que você nos ouça antes de debater conosco. Nos mostre que seu amor e seu Deus são reais. Igreja, nos dê uma razão pra ficar.
“Não sou eu, é você.” Parece que é isso que você está dizendo, Igreja.
Estou tentando abrir meu coração com você. O meu e o de milhares e milhares de pessoas iguais a mim que estão indo embora. Tudo isso para você saber do dano que você está nos causando e do doloroso legado que está deixando, e aparentemente, o problema não é você. O que na verdade não deixa de ser um problema.
Eu prostrei minhas frustrações em seu interior, em sua retórica religiosa, e você me respondeu com um corta e cola de passagens aleatórias das Escrituras, insistindo que o problema real é apenas ignorância bíblica, sugerindo que eu só preciso me arrepender e comprar uma Concordância, seja lá o que for isso.
Eu te deixei saber o quão julgado e ridicularizado eu me sinto quando estou com você, o quão desesperado e caído eu me sinto no interior de sua comunidade, e você prossegue me dizendo o quão perdido eu estou, o quão perdidamente apaixonado pelo meu pecado eu devo estar para te deixar, me lembrando, na saída, que eu nunca pertenci a você de qualquer forma.
Em face de qualquer reclamação e mágoa, você deixou claro que o real motivo é que eu sou pecador, imoral, herético, tolo, das trevas, egoísta, consumista ou simplesmente ignorante.
E para falar a verdade, na maioria dos dias eu nem discordo de você nesse aspecto.
Talvez você esteja certa, Igreja. Talvez eu seja o problema. Talvez seja eu, mas eu é tudo o que sou capaz de ser neste momento, e é aqui que eu tinha esperanças que você pudesse me encontrar.
É aqui, em meu falho, bagunçado, ferido, chocado, duvidoso, desiludido e ameaçador mundo que eu esperava que você pudesse me encontrar com esse suposto e audacioso amor de Jesus que eu tanto ouvi falar.
Igreja, eu sei o quanto você despreza a palavra Tolerância, mas neste momento, eu realmente preciso que você me tolere, que você tolere aqueles de nós que, por qualquer que seja a razão e que você ache injustificável, estão lutando para ficar.
Estamos tão cansados de nos sentirmos como se fossemos apenas uma agenda religiosa; um argumento a ser ganho; um ponto a deixar claro; uma causa a defender; uma alma pra conquistar.
Nós queremos ser mais do que uma estrela na sua coroa; um número no seu relatório de batismos.
Nós precisamos ser mais do que respostas a apelos, que são aplaudidos no altar, e então esquecidos quando a música acaba.
Estamos orando para que você pare de nos doutrinar, de nos julgar, de nos condenar, de diagnosticar nossos pecados, apenas tempo suficiente para nos ouvir…
… mesmo que nós sejamos o problema.
Mesmo se formos a mulher em adultério, ou o seguidor em dúvida, ou o pródigo rebelde, ou o jovem endemoninhado, pois não conseguimos ser outra coisa neste momento. E é neste momento que precisamos de uma igreja que seja grande o suficiente, firme o suficiente, amorosa o suficiente, não apenas para nós como poderemos vir a ser um dia, mas para nós como somos, agora.
Ainda acreditamos que Deus é grande o suficiente, firme o suficiente, amoroso o suficiente, mesmo que você não seja, e é por isso que mesmo que estejamos te deixando, não significa que estamos abandonando nossa fé; é só que nesse momento, a fé parece mais alcançável em outro lugar.
Eu sei que você vai argumentar que está fazendo todas essas coisas e dizendo todas essas coisas porque você nos ama e se importa conosco, mas do lado de cá, você precisa saber que se parece menos com amor e preocupação e mais com distância e silêncio.
Se alguém está frustrado, dizer a ele que é errado estar frustrado é, bem, muito frustrante. Apenas gera distância.
Se alguém compartilha que seu coração está ferido, ele não quer ouvir que não tem o direito de estar ferido. É uma quebra no diálogo.
Se alguém te diz que está faminto por compaixão, relacionamento e autenticidade, a última coisa que ele precisa é ser censurado por estar com fome. É um chute no traseiro enquanto sai pela porta.
Portanto sim, Igreja, mesmo que você esteja certa, mesmo que estejamos totalmente errados, mesmo que sejamos todos mesquinhos, auto-centrados, hipócritas, críticos, e devo dizer pecadores, nós ainda somos aqueles que estão procurando por um lugar onde possamos pertencer e sermos conhecidos; um lugar onde Deus habite, e só você pode nos mostrar isso.
Mesmo que o problema seja eu, sou eu quem você precisa alcançar, Igreja. Então, pelo amor de Deus, me alcance.

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