segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

A GRAÇA DA DESGRAÇA

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Por vezes, sem entendermos, algo muito ruim acontece. A mente finita, falha, limitada, terrena, ofuscada, tenta obter conclusões e não consegue. Não consegue porque o entendimento não é possível com o cérebro. Por mais explicações que se ouça e entendimento que se busque, não, não vai conseguir! Eu chamo isso de a Graça da desgraça! Aquele momento turbulento da vida que Deus faz ressurgir ordem no caos.

Se você perguntasse: Mas precisava tudo isso pra que eu entendesse? Eu responderia com uma metáfora: numa sala de aula, o professor aplica um conteúdo inédito na grade curricular. De cara, lhe parece estranho. Mas, juntando com a base de tudo o que anteriormente foi aplicado, é facilitada a compreensão do difícil.

Minha filha quando aprendeu a somar os algarismos, ficou em encantada. Somar unidade com unidade era fácil pra ela. Logo depois, vieram as dezenas e as regras continuavam as mesmas, mas aplicadas de forma inédita pra ela. Ela chorava diante das continhas. Aí ela aprendeu, a base de lágrimas. Vieram as centenas, mais lágrimas.

Na vida com Deus acontece o mesmo! Ele já nos mostrou o que é capaz de fazer, mas esquecemos de levar na memória tudo o que nos ensinou. E, como a minha filha, choramos. Não paramos um pouquinho pra relembrar as lições do passado. Aí vem a Graça da desgraça.

O hospital não é só para o corpo doente. Às vezes, é pra tratar a alma. A necessidade não é só pra sentirmos falta do que não temos. Às vezes, é Deus nos chamando à dependência. A calúnia não é para nos humilharmos. Às vezes, é só pra testar nossa confiança em Deus.

O redemoinho revela nossa identidade. O furacão revela o que realmente é importante. A sacudida traz a sanidade. O terremoto testa os alicerces. O vento prova nossa resistência. A alagação nos dá a chance do recomeço. A demolição nos dá novos sonhos. A derrota faz-nos refletir no que precisa ser revisto. A reprovação diz que não aprendemos o certo. O filho rebelde talvez seja falta de amor. O casamento balançado pode ser porque um dos dois quis manter-se imóvel quando era hora de reagir. Deus mostra sua graça na desgraça!

A desgraça não justifica a desgraça, mas a graça sim! Deus não aplica provas só por aplicar. Ele quer lhe mostrar o que já sabe! O errado ensina que há um jeito certo; o imperfeito mostra que há o perfeito; o defeito pode converter-se em qualidade; o acidente pode ser a descoberta; o caos pode revelar a luz; a perda pode mostrar o que ainda temos; a saudade revela a importância; a solidão, a necessidade de comunhão. Por trás de um homem hostil e inflexível pode ser um bebê chorão a procura de amor!

"Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não" (Deuteronômio 8.2).

"Lembre de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto..." Cada parada, cada montagem e desmontagem do acampamento, cada enfrentamento que tiveram, cada murmuração e resposta, cada bebê que nasceu e velho que morreu, cada milagre e cada privação... Lembre! Na jornada com Deus, tudo tem caráter pedagógico, tudo ensina!

"Durante esses quarenta anos..." A graduação com Deus é mais demorada. Deus não meio ponto pra ajudar os que não alcançam a média. Deus não dá coroa quem corre metade do percurso. Ele não põe no pódio quem chega por último. Ele testa! E testará até que aprendamos o que está ensinando. Não há louros para derrotados. Na história de Israel, do Egito até a terra prometida, bastava caminhar apenas alguns dias, mas na mente de Deus, os que saíram do Egito não poderiam entrar em Canaã do mesmo jeito. A prova duraria 40 anos. É o teste da resistência humana, da geração que vai e da outra que vem. Para o povo, 40 anos; para Deus, revelar o coração!

"Para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não". Já vi gente usar esse versículo para provar que Deus não sabe das coisas antes que aconteçam, de que é pego de surpresa com o que acontece. É a teologia relacional. Segundo eles, Deus pode prevê, mas não sabe com exatidão o que vai acontecer. Mentes pobres e escravas! A ideia do texto não é que Deus vai saber o que estava no seu coração, mas a de que eles, por mais que falassem em devoção exclusiva, o seu coração lhe mostraria o contrário quando provado. Seria-lhes revelado o que estava em seu coração. Deus ri de nossas confissões nunca provadas, gargalha de nossa fé sem arranhão e entorta a boca com as orações que não dizem nada do que temos no coração. Ele sabe o que está lá e trará desgraça para nos mostrar sua graça!

No livro "O Corpo Fala", Pierre Weil e Roland Tompakow, escrevem: "Quando a boca cala, o corpo fala. O resfriado escorre quando o corpo não chora. A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições. O estômago arde quando as raivas não conseguem sair. O diabetes invade quando a solidão dói. O corpo engorda quando a insatisfação aperta. A dor de cabeça deprime quando as dúvidas aumentam. O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar. A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável. As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas. O peito aperta quando o orgulho escraviza. A pressão sobe quando o medo aprisiona. As neuroses paralisam quando a criança interna tiraniza. A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade". O que parece que é, é mais além, além do que os olhos podem ver e a boca falar.

Deus tem um senso de humor que nos faz chorar. Feliz é quem chora; rico é o que depende; recompensa depois da morte; morte que dá vida; vida provada na morte... O que de Deus ninguém entende é sempre a parte que mais experimentamos.
Se você está passando por alguma situação que não entende, não aceita e não quer, aconselho-lhe:

1. Não tente ensinar a Deus o jeito de resolver problemas. Ele não conhece problemas e, vindo de nós, não conhece solução.

2. Não tente mostrar esforço. Nas palavras de Rubem Alves, "Ele não soma débito nem crédito".

3. Não tente sozinho. Você nunca conseguirá ver a plenitude da vontade de Deus, mas deve se entregar a ela.

4. Aprenda com as lições anteriores. É regra sobre regra. Cada nova exige experiência das fases anteriores.

5. Continue! O último será apenas na eternidade. Corra, ande, rasteje, a pé, carregado, de muletas ou de cadeira de rodas, CONTINUE!

A desgraça de hoje será graça amanhã.

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LIVRE, MAS LIMITADO

Você é livre, é verdade. Inteiramente livre. Profundamente livre. É livre como nunca foi. Mas ainda que sejamos livres para fazer o que quis...