sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A IMPORTÂNCIA DA INTELECTUALIDADE


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Durante o período eleitoral, num dos vários encontros de candidatos com a ala evangélica do país, um deles teve uma repercussão maior. Foi o caso em que um pastor, na sua oportunidade, citou um versículo, impetrando as bênçãos de Deus sobre os candidatos ali presente. Até aqui, nada demais, aparentemente um episódio como qualquer outro, não fosse por alguns detalhes que chamo atenção nas linhas abaixo.

1. O pastor apoiava um partido que contraria princípios cristãos.

Sei que pra muita gente esse quesito não tem uma grande equivalência, tendo em vista que muitos, a preços altíssimos, alinham-se sem qualquer dificuldades com ideologias que gritam alto contra o que seria um cristão autêntico. Nesse ponto, estampam uma vida dicotômica: pessoal e cristã. Por essa atitude, a vida cristã é encenada e sufocada. Na perspectiva de Deus, meia consagração significa nenhuma consagração.

Uma vida cristã autêntica deve incluir todos os sentidos: o que ver, o que falar, o que ouvir, onde estar e o que provar.

Sob essa perspectiva, alguns cristãos interessam-se por certas ideologias, olhando apenas para as políticas sociais e sabemos que isso não basta. O Evangelho alcança em primeira instância o coração do homem, depois a alma e finalmente, o corpo. Não podemos resumir o Evangelho em ação para o corpo. O corpo deve reagir ao que é ministrado a alma.

2. O pastor castigou a língua portuguesa.

A intelectualidade do cristão não pode ser desprezada. Não pode ser superestimada, mas também não pode ser em subestimada. Há o risco de sermos racionais demais, cartesianos ao extremo e secos em último grau. A letra é benéfica até certo ponto, mas ela não é o único instrumento na vida cristã. Quem opta por esse caminho, vai sentir falta da outra parte. Quanto a língua nativa, deve-se conhecer o mínimo. Não basta apenas comunicar, mas comunicar de forma que não fira os ouvidos. Aconselho os irmãos a observarem algumas orientações:

- Aprenda sobre os pronomes pessoais e de tratamento. Saber dirigir-se às autoridades e pessoas simples. É possível que, por não saber isso, diminua pelo tratamento que deve ser dado uma autoridade. Não é bajulação, é saber como tratar!

- Aprenda sobre concordância verbal e nominal. A Igreja de hoje é constituída de pessoas com nível cultural cada vez mais alto e isso exige o conhecimento mínimo de como devem ser conjugados os verbos concordando com os substantivos, quando plural e singular.

- Aprenda a pronunciar a palavra que deseja incluir em sua fala. É normal encantar-se por uma palavra desconhecida e falar na primeira oportunidade. Mas antes, conheça a pronúncia correta, o seu significado e aplicação. Certa vez, vi um pregador dizer uma palavra desconhecida. Ao ser procurado por um ouvinte para revelar-lhe o significado da tal palavra. Sua resposta pareceu uma piada. Disse ele: "Quando estamos pregando, o Espírito Santo coloca cada palavra em nossa boca!" A palavra? Circunscifláutico!

- Aprenda a reagir conforme o que você fala. Dizer que quer abraçar, enquanto tem os braços voltados para trás, ou que está aberto a discussão com os braços cruzados é negar com o corpo o que se fala com a boca. Essa leitura é feita pela plateia ouvinte.

Há uma necessidade cada vez maior de dedicar-se à pesquisa, à leitura e desenvolver o hábito de escrever notas e praticar a meditação sobre assuntos que precisam de tempo para assimilação e domínio. Não é vergonhoso admitir que não se domina um assunto.

3. O pastor errou a citação bíblica.

Reconheço que nem sempre é fácil gravar na mente as referências bíblicas, mas é necessário que aquelas que se pretende citar, estejam no mínimo escritas no roteiro ou pronunciadas da forma como está escrito na Bíblia. Em tempos antigos, era difícil verificar uma referência, mas hoje, num clique de um aplicativo, é possível se encontrar as referências em várias versões. Sem contar que as referências exaltam a autoridade da exposição. Quando pronunciadas de forma fidedigna, reflete o tempo que tempo que foi dedicado antes.

4. O pastor aplicou mal a teologia.

Ao ler a Bíblia, percebe-se que foi escrita tendo em vista três grupos: judeus (a nação de Israel), gentios (todas as nações, exceto Israel) e Igreja (a nação espiritual formada por pessoas de todas as raças, tribos e nações que creram no Evangelho). A par disso, o contexto de todo texto precisa ser avaliado para evitar más aplicações. As regras de hermenêutica (gramaticais, gerais e exegéticas) precisam nortear a mente na interpretação do texto. É pecado apoderar-se de promessas que não nos diz respeito e ensiná-las à Igreja como verdade.

Dirá o leitor que a teologia é prejudicial ao cristão. Não creia nisso. A teologia possibilita a compreensão e aplicação certas. Ensino errado gera esperança errada.

No ápice das emoções, é possível perder-se na aplicação do texto e dizer algo que fuja da realidade hermenêutica.

Creio nos recursos que o Espírito Santo disponibiliza aos leitores hoje: a revelação, para os que pregam (capacidade de conhecer os mistérios da Bíblia), e a iluminação, para os que ouvem (capacidade de entender). Por isso, quanto maior o zelo na interpretação, maior edificação na Igreja.

O pastor do encontro político é uma representação genérica da Igreja brasileira: rasa, conveniente e melindrosa. Mas também percebo um interesse em participar de seminários, congressos teológicos e estudos acadêmicos. Isso mostra uma luz de esperança no fim do túnel. Que esse despertamento alcance o maior número de pessoas.

O Evangelho deve ser pregado com ousadia, independente dos ouvintes e precisa ser prioritário em qualquer fala de um cristão genuíno.

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